domingo, 15 de janeiro de 2012

Resquícios do nosso amor



Tem seu cheiro ainda impregnado no lençol. Alguns fios de cabelo perdidos pelo travesseiro. Tem seu gosto na minha boca. A cama ainda guarda o calor dos nossos corpos nus e entrelaçados.

Você me aninhou nos braços e eu tive vontade de falar tanta coisa. Me calei. Os olhos falaram por mim. Percorri todo seu corpo num instante. Olhos, nariz, lábios, colo, seios, cintura. Voltei para o seu sorriso - Deus, de onde vem tanto feitiço? Enquanto você me dizia todas aquelas palavras lindas que ainda ecoam na minha mente e resultam em suspiros, eu pedi que aquela magia nunca fosse desfeita, eu implorei aos céus que eu não me perdesse daquele corpo, eu te quis tanto, o coração queria gritar ao mundo a beleza daquele amor, eu supliquei para que o eterno fizesse morada em nós. E fez.

Aquele quarto presenciou o estopim para que as letras engasgadas voltassem a tomar alguma forma e preenchesse mais uma das infinitas páginas da nossa história.

domingo, 4 de setembro de 2011

Quem sabe isso quer dizer amor


É claro que o coração fica calejado, meu bem, a inocência de se entregar ou se moldar ao objeto amado se perde aos poucos. Há que endurecer-se. A vida nos bate na cara vezenquando e sussurra: amadurece, mulher. Chega de se doer.

É preciso muita ousadia para se colocar frente ao abismo mais uma vez. O medo do escuro que na infância nos perturbava agora é muito pouco perto do medo de amar que se alojou no peito feito uma bala perdida - já não sangra, mas ainda lateja.

Preguiça? Não é esse o nome. Cansaço, talvez, ao pensar na reconstrução do amor. Um novo. Demanda tanta, tanta coisa. Se surpreender com as qualidades ou mesmo fazer dos defeitos do outro algo amável não se faz da noite pro dia. Exige, mais que tempo, paciência. Mais uma vez, tempo. Então a gente fica tentado a desistir, quase conseguindo convencer o espírito que uma vida sem paixões também pode ser vida. Tudo pra evitar o retorno ao fundo do poço depois do fim - porque o fim é a única certeza que a gente tem e, não finja, você sabe. Se entregar é dar a cara a tapa e entrar num caminho que não se tem garantia de volta.

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Não-vá-amar-que-a-dor-vem-em-parcelas. Eu me avisei e de nada adiantou. Me convenci de todos os motivos que pudessem me afastar de outros abraços intermináveis beijos intensos e entregas inconsequentes.

Me dei conta quando eu já estava muito além, depois foi que percebi que o coração-já-fatigado encontrara novos motivos para sorrir.

Eu havia garantido a passagem de ida e não me amedrontava o caminho de volta. Não dessa vez. Não depois que minha boca, meio que por instinto, fitou seus olhos frouxos e balbuciou pela primeira vez um eu amo você, sorrindo logo depois que suas pupilas dilatadas encontraram as minhas e os lábios disseram que sim, mô, de verdade, eu também te amo. Muito.

sábado, 20 de agosto de 2011

Alusão à Caio F. - Carta ao Zézim


As palavras, Zézim, foram aonde que não saem? Ando precisando daquele dedo na garganta. É isso. Porque rimas forçadas e metáforas ensaiadas não valem de nada.

O tempo anda escasso, é verdade, mas seria estupidez culpá-lo, você não acha? As frases, quando querem, dão sempre um jeitinho de virar rascunho no consciente.

Essa coisa metalinguística de não conseguir rabiscar nada além da falta agonizante de escrever tá incômodo. Alimentar a alma? Eu juro que . Ou eu acho? Não sei, preciso me atentar. A cabeça anda cheia, confesso. Cheia inclusive de coisas maravilhosas - é claro que tem uma preocupação aqui ou uma chateação ali, mas nada que não sobrevivamos. Não é falta de amor - ando sentindo com força, meu amigo, o coração tá batendo com um sorriso d'uma orelha à outra. Assunto? Mas o papel não filtra isso, ele só reorganiza a brutalidade inicial das letras e enfeita os sentimentos.

Não é preciso pressa. Não vou ficar procurando motivos. É besteira. Me aliviei. Te escrevo porque sei que me entendes. Logo você que poetiza qualquer sorriso, Zézim.

Deixemos que o sublime faça morada em nós e a alma consiga logo vomitar todas as palavras incrustadas no cotidiano da memória. É sempre mais doce viver quando conseguimos apagar o cigarro no peito e dizer pra gente o que não gostamos de ouvir.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Abstinência


O quarto escuro. Alguns poucos feixes de luz atravessando a cortina e a fumaça estagnada.

God, eu queria que você viesse. Mais uma dose do seu carinho, por favor. Olho pro telefone esperando que ele toque e você diga com sua voz mansa que virá, que está chegando, logo está aqui. Pode ir me buscar. Tô perto.

O coração tá apertado, pequenininho. Vem cá, quando foi que o resto do mundo perdeu a importância só pra eu te ver sorrir e eu não percebi? Diz pra mim. Tem dois dias que eu não te vejo e parece uma década. Seu cheiro impregnado na minha roupa, seu gosto na minha boca e suas expressões fotografadas na memória - já tão congestionada.

Nada se manifestou. O celular, a campainha e o telefone permanecem em silêncio. Mas olha, baby, tá tudo bem. Nada de desesperos. Eu exagerei. É pedir demais. Me conformo, isso não é nada perto do que virá.

Deixa pra lá, hipérboles fazem parte. Não se assuste, é que em palavras os sentimentos parecem mais intensos.

Vou abrir a cortina, botar um sorriso no rosto, distrair os ouvidos, encher o cinzeiro de pontas e contar os dias. Que os minutos escorram logo e a semana acabe já. Só pra fazermos de dois corpos um só, mais uma vez. Aí sim. Vou te olhar nos olhos, como todas as vezes, sorrir em silêncio e desejar que esse momento dure uma eternidade.

sábado, 16 de julho de 2011

sweet real life

Que não há sentimento mais sereno do que aquele de não querer nada além do que se tem.
Que um simples esticar de braços pode tocar a realidade um dia chamada de utopia.
Que a simplicidade é tudo e alimenta a alma.
Que é, indubitavelmente, maravilhoso sonhar. Mas pode ser melhor se seu coração vive nas nuvens enquanto seus pés tocam o chão.

Estou adorando aprender que a a realidade também pode ser doce,
É que quando você ensina fica mais fácil.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Sobre chuvas e contos-de-fadas


Quase desisto das palavras quando seus olhos me mostram muito mais do que caberia num papel. Eis que elas insistem em rabiscar alguma baboseira numa folha d'uma tarde qualquer - ainda que vire rascunho depois.

É claro que eu pensei em culpar o acaso ou, sei lá, o Cara-lá-de-cima. Qualquer suposição ou coisa assim que explicasse você chegando num dia antecedente ao primeiro-de-abril dia-da-mentira. Aliás, você já havia chegado: final de fevereiro, quase março. O carnaval era logo. Fingi que nossas pupilas não dilataram quando se deu o encontro e, para o trabalho sair bem feito, responsabilizei o álcool pelas imagens do seu rosto que vieram à tona quando me deitei. A razão insistia em negar - era só invenção de um coração já fatigado de procuras. Caio F. se fez íntimo e me lembrou que não havia nada a ser esperado, nem desesperado. Seguiria assim convicta não fosse o emocional aumentando o tom de voz: é quando se desiste da procura que o inesperado nos atinge. Insisti ainda em acreditar que gostos idênticos, manias parecidas ou qualquer motivo análogo que pudesse nos aproximar fossem apenas coincidências. Afinal, elas acontecem. Mas o destino é irônico, meu bem. Sem mais desvios. Embora o niilismo tentasse tomar conta de mim o acaso já não podia se culpar pelo encontro que se deu ali, entre tanta gente chata e sem nenhuma graça, de um jeito não condizente aos inícios românticos dos filmes clichês.

Ainda que eu tentasse avisar ao o coração que dessa vez - por favor, ao menos dessa vez - ele deveria se calar. Berrou. Corações, dear, são deveras teimosos. E foi exatamente quando se deu o encaixe perfeito dos lábios e a sintonia dos corpos que tive de me convencer: a chuva não caíra à toa naquele 31 de março. Quer tenha sido São Pedro arrastando seus móveis ou mero fenômeno natural, as fugas se esgotaram: mais do que um pretexto para que eu lhe cedesse minha blusa e a usasse como desculpa para futuros encontros, o céu desabando sobre nós naquela tarde fora também uma breve introdução de uma história que estaria por vir. Um pouco complexa, confesso, mas que não deixa de ser doce: o que obviamente não presta sempre me interessou muito.

domingo, 5 de junho de 2011

Devaneios de uma alma encantada

Carrego comigo a ideia talvez equivocada que qualquer tipo de definição limita o que quer que seja. Restringe, entende? Feito um pássaro que repentinamente se vê sem asas. A partir do momento em que eu optasse por definir o que se passa aqui dentro, esse sentimento que agora me embriaga não poderia ser posteriormente algo senão aquilo já dito – e seria necessário a invenção de um novo vocabulário a cada novo beijo-olhar-ou-toque.


Afirmaram, por fim, que era amor. Não – de novo. Pedi a permissão de Martha Medeiros e concluí que não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Um ponto,

Tinha um cigarro em uma das mãos enquanto a outra estava jogada sobre o rosto poupando-a do sol. Usava a mochila como travesseiro no banco da praça - e aquele lugar a separava do mundo, acreditava. Questão de metros e a poluição áudio-visual-capitalismo-selvagem se desmanchava na calmaria que cobria o céu.

Alguns pensamentos incoerentes alternando os tragos. Se deu conta que saberia seguir sem as ilusões - não era preciso afinal que inventasse sentimentos ou se apoiasse em utopias. Se bastava, concluiu. Uma saudade lá, outra cá. Qualquer coisa como a linha tênue entre o amor e a dor, mas nada muito desesperador - tudo zen, meu bem.

Ora abria os olhos e podia precisar com exatidão o momento em que o céu passava de azul-quase-anil para azul celeste. Se atentava aos detalhes e não havia paz interior que fosse melhor atribuída do que ao silêncio sobrepondo o canto dos pássaros.

Ela era um ponto - lembrou de Clarice. E foi tão corpo que foi puro espírito. Atravessou os acontecimentos e as horas imaterial, esgueirando-se entre eles com a leveza de um instante. Um ponto maciço, singelo e singular. Ah, Lispector. Repetiu, dando um último trago que antecedeu o despertar do relógio avisando-a alguma coisa como corra-que-há-vida-do-outro lado: era um ponto, embora muitas vezes agisse feito vírgula.

segunda-feira, 14 de março de 2011

E tudo. E tanto. E sempre.

Não fosse o rancor e o orgulho aos berros exigindo o meu silêncio, diria – assim, olhando bem fundo nesses seus tão meus pequeninos olhos - sinto uma falta escandalosa daquele seu jeito de me amar desenfreadamente. Você fodeu tudo no final do roteiro, é verdade – pensemos no lado doce, deixe o amargo no fundo da memória que de dor as costas andam fatigadas.

E bate uma invejinha branca à la Caio F. Parabenizo-lhe, eu acho, por alimentar coragem de seguir sem medo e se entregar com todas as forças ou mesmo interromper um beijo para me olhar nos olhos e dizer as três palavrinhas mágicas; ser persistente o suficiente até o tempo permitir a reciprocidade – e permitiu. Olha, baby, em pleno capitalismo de séc. XXI amantes assim vão ficando escassos. Uma espécie de seca do amor, sabe-se lá o que tem na cabeça desse povo – lamentavelmente nosso povo.

Manhã de verão nublada e você sem entender porcaria nenhuma. Não precisa. Vou desabafando assim aos pouquinhos que o seu coração vai escutando – eu sei que sim. Vezenquando essa saudade grita, corta, sangra e eu guardo cá esse caos dentro de mim e finjo que amanhã tá tudo bem - tudo zen, meu bem. Há de nascer o sol, dear – não era assim que você dizia? E, pasme. Pasme assim sem ponto de exclamação pra não soar desesperada. Um ano. Vês? Um ano. O show, ela - minha garganta estranha quando não te vejo, eles, algumas cervejas e, por fim, nós. E assim pelos seguintes seis meses. O cinema, a família, os finais-de-semana-casadas-preparando-café-da-manhã, Os 500 dias Com Ela distraindo os pés entrelaçados debaixo do cobertor e todos os outros afins que palavras expressariam mediocremente e o 12-de-junho estagnado na memória. Sem esquecer de citar, obviamente, a sua ousadia de amar sempre tão posta-à-prova contrastando feito o preto no branco o meu medo de ser sua. E fui.

Finjo indiferença ao ouvir sua voz e saber que ainda se preocupas - fiz parte dos seus sonhos, não foi isso? Jogo palavras frias e me aqueço por dentro sem que você perceba – não posso dar pistas, honey. Vou levando assim meio naja o ódio e o amor por você - ora um, ora outro. Me conformo, não há como negar, a explicação talvez seja essa: haverá sempre um nós – ou um nó cego – decretado por nós num beijo-ou-coisa-assim que nunca se desatará. Te mando em silêncio ótimas vibrações e te perdoô – talvez eu tenha aprendido o significado disso, perdoar – verbo forte. Acho que consegui. Guardo um carinho enorme e não é preciso que saibas.

Um beijo. Vários beijos. E o meu melhor sorriso.

Te cuida, mô.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Os ais e os hão de ser

Nós - humanos - e essa eterna mania horrível de empurrar o hoje feito um prato que não se quer mais - rápido, o mais rápido que puder.

Dorme, fuma mais um cigarro, sonha, inventa. Logo o sol bate na janela e escancara a dor, fica a ressaca. Ressaca de amar, ressaca de amor. É assim mesmo? Calma, baby. O amanhã já vem - vem? Sim, talvez venha. E embora doa a verdade, tudo permanecerá intacto até você perceber que não é só mais um dia esperando ser sucedido. Vai doer ainda do mesmo tanto, você não vê? É tudo consequência do ontem e o resto é imprevisível. Seu dia é hoje, coração, a hora é agora - faça o que tem de ser feito, dê o abraço que tem de ser dado, cumpra o beijo que fora prometido, solte as palavras que o coração silenciou. Olhe bem aqui no fundo dos meus olhos antes que transborde a esperança de te ver de novo e venha antes, bem antes que o tempo seque a vontade de dizer que sim, eu também morri de saudades de ti. Eu te quero mais uma vez.

Eu entendo sim, não te preocupas. Confesso que vezenquando-quase-sempre bate uma urgência no peito feito um aço cortante ameaçando destruir a carne morna. Pavoroso, baby.

Não sei mesmo se ele vem, o amanhã é ilusório - lembro-me precariamente do agora, quem dirá do que virá depois?

Peço, portanto, que alimentes qualquer coisa que soe a uma tentativa de viver. Uma tentativa de sobreviver.

Fantasio enquanto é isso. Fantasiemos.